sexta-feira, 18 de dezembro de 2009





Recordando Tomás da Fonseca




O busto de Tomás da Fonseca que foi esculpido por Abel Salazar



No blogue de 28 de Setembro fiz referência ao livro de versos de Manuel Alves, o "Poeta Cavador", que foi editado por Tomás da Fonseca e tem uma dedicatória a Bernardino Machado.

O meu querido amigo António Valdemar, chamou-me a atenção para o facto de, neste ano de 2009, se comemorar o centenário da publicação do livro de Tomás da Fonseca - "Sermões da montanha":
 
"O centenário da República que, em 2010, vai constituir um dos grandes acontecimentos culturais e políticos, já começou a chamar a atenção para figuras e factos que, por várias circunstâncias, permaneciam no ostracismo.
Um dos exemplos mais significativos é Tomaz da Fonseca, cuja obra está, finalmente, a ser reeditada. Se, durante o salazarismo e o marcelismo, Tomaz da Fonseca foi um dos autores portugueses mais atingidos pela censura e pela PIDE (com mais de 80 anos ainda sofreu a prisão, a tortura, a atrocidade dos curros do Aljube!), não se compreendia que, após o 25 de Abril, continuasse a ser proscrito.
Tomaz da Fonseca, no domínio profissional, consagrou -se, nos primórdios do século XX, à renovação pedagógica, à formação de professores para a educação da infância e da juventude. Deputado às Constituintes de 1911, chefe de gabinete de Teófilo Braga, contribuiu para a implantação do regime republicano, a instituição das estruturas do estado laico e a defesa e valorização do património artístico e cultural. Também se distinguiu na luta implacável contra o fanatismo, as superstições e preconceitos, empenhando -se na concretização de todas as soluções politicas e sociais para a transformação da sociedade portuguesa.
A igreja católica, a sua intransigência dogmática, o magistério irredutível do Concílio de Trento - que justificou e fortaleceu a Inquisição - constituíram um dos alvos permanentes do seu combate. À luz desta orientação publicou, em 1909, há precisamente um século, «Sermões da Montanha» um dos livros que revelaram a tempera, a dimensão e a garra do polemista e, por outro lado, os méritos do pedagogo, a capacidade de esclarecer e comunicar, em linguagem simples e clara, temas de acesso difícil e de abordagem complexa.
Manuel Sá Marques legitimo representante de Bernardino Machado - um dos grandes portugueses que se bateram pela liberdade, pela implantação da República e pelo combate ao salazarismo e outros fascismos europeus – revive, neste blogue, o corpo fundamental de ideias e princípios de seu avô, dentro de uma visão prospectiva do mundo do nosso tempo.
No âmbito da pedagogia cívica e da investigação histórica que Manuel Sá Marques está a exercer, julgo que seria oportuno alvitrar a reedição actualizada dos «Sermões da Montanha», adoptando o critério agora seguido para o livro de Tomaz da Fonseca acerca de Nuno Alvares Pereira.
É uma das homenagens que se impõe prestar ao legado cultural e politico de Tomaz da Fonseca, à memória do humanista laico, do polemista vigoroso e do cidadão exemplar."

Como a Editorial Antígona nos proporcionou a leitura dos livros de Tomás da Fonseca - "Na Cova dos Leões" e "Santo Condestável", que já se encontram nas estantes das livrarias desde o mês passado, aguardamos a nova edição de "Sermões da Montanha", livro editado em 1909.






Recordo que Tomás da Fonseca foi um dos fundadores da Universidade Livre de Coimbra., que tinha o objectivo de fomentar a cultura e a educação dos trabalhadores intelectuais e manuais, desempenhando uma obra de extensão universitária. Livre de preocupações de ordem política e religiosa proponha-se realizar um programa de educação integral.

"A Universidade Livre de Coimbra (ULC), fundada em 05 de Fevereiro de 1925 foi uma instituição de curta duração. À semelhança de outros projectos democratizantes, de inspiração republicana e orientação laica, a ULC viu-se condenada a curto prazo pela emergência do vigilante Estado Novo, regime que não estava disposto a tolerar a existência de projectos de instrução alheios à sua filosofia centralizadora. O modo como eram interpretados e expostos temas como a sexualidade ou a santidade não era de molde a agradar aos intelectuais da Igreja Católica. Sem sede social própria, a ULC ficou instalada na Torre de Almedina (arquivo, reuniões, conferências, correspondência), recorrendo a espaços contíguos aos Paços do Conselho, Ateneu Comercial e Associação dos Artistas para realizar as palestras. Na sessão inaugural, realizada no Salão Nobre dos Paços do Concelho estiveram presentes Bernardino Machado e o Vice-Reitor da UC Manuel Fernandes Costa. Bernardino Machado foi de opinião que a ULC era a legítima continuadora das experiências encetadas em 1897 no Instituto de Coimbra. O discurso inaugural coube a Aurélio Quintanilha que, fazendo jus aos valores republicanos, laicos e libertários, elogiou o operariado, a aproximação entre operários e intelectuais, o papel da instrução enquanto ferramenta de promoção das classes populares, o combate ao fanatismo e à ignorância." - Do blogue "Guitarra de Coimbra (Parte I)" de 5 de Fevereiro de 2007.

Bilhete postal, em cujo cabeçalho figura o emblema da ULC, um círculo com uma mão aberta, de cujo interior brotam chamas de sabedoria.


Ficha da PIDE


Sem comentários: