quarta-feira, 31 de agosto de 2016




MAÇONARIA EM MACAU  -  3

DO BLOGUE

sexta-feira, 13 de março de 2015

CAMILO PESSANHA E A SUA FILIAÇÃO MAÇÓNICA NA LOJA LUÍS DE CAMÕES DE MACAU – PARTE III


Refira-se que passaram por Macau, aí trabalharam e viveram, muitos maçons vindos da metrópole, tais como Francisco Isidoro Guimarães [governador de Macau, na monarquia], Custódio Miguel de Borja [1849-1911; oficial da marinha, deputado, governador de Macau entre 1890-94, maçon com n.s. de “Nelson”, tendo feito parte do Grande Oriente de Portugal, do qual foi seu último Grão-Mestre]. Já depois da República registe-se José Carlos da Maia [n. Olhão em 1878-1921; oficial da Armada, maçon com n.s. de João Afonso (fez parte da cisão em 1914 no GOLU) e carbonário, deputado à Constituinte, governador de Macau entre 1914-1916, sidonista e ministro da Marinha, é assassinato na “Noite Sangrenta” de Outubro de 1921], [Francisco Gonçalves] Velhinho Correia [foi professor do liceu de Macau, eleito deputado de Macau em Lisboa, ministro em 1920 e 1923, tendo aderido ao Estado Novo; foi iniciado, em 1907, com o n.s. Padre Eterno, na loja Solidariedade, de Lisboa], o que deu, de algum modo, muito alento ao trabalho maçónico.
Na sequência da proibição da maçonaria pelo Decreto-lei nº 1901, de 21 de Maio de 1935, a triangulação das lojas, ordenado pelo GOLU, foi cumprida, também, em Macau. Pouco se sabe sobre o assunto, mas é adquirido que os irmãos se continuavam a reunir. Refira-se que se considera ter existido, nesse período, duas lojas em Macau, uma a Luís de Camões (GOLU) e outra constituída por cidadãos britânicos refugiados de Hong Kong, sob obediência da UGLE.


Da(s) Loja(s) Luís de Camões [houve alguns obreiros que transitaram da primitiva loja nº 309, mas a maioria, aqui citada, pertenceu aquela que levantou colunas em 1915, a nº383], de Macau, fizeram parte [segundo o parecer de 1935 da Câmara Corporativa que levou à extinção das Sociedades Secretas, a Loja Luís de Camões tinha “chegado aos 102 membros” – cf. Arnaldo Gonçalves, ibidem], com muita segurança, os seguintes obreiros:

Álvaro Cardoso Mello Machado [iniciado na Loja Liberdade, de Lisboa, foi Venerável da Loja de Macau em 1912; republicano, oficial da marinha, fundador do escutismo em Macau, foi governador-interino de Macau – nomeado a 9 de Dezembro de 1910, depois chefe de gabinete (1914) do governador-geral de Moçambique, administrador delegado nos caminhos-de-ferro de Benguela] | António Afonso de Carvalho (oficial da armada?) | António Antillos | António Antunes [co-fundador da Loja, militar e, depois, comandante da PSP] | António Augusto Pacheco [Venerável em 1909 – cf. Anuário GOLU de 1909, p. 126; foi oficial da repartição superior da Fazenda até 1911, passando depois, em Janeiro de 1911, a sub-inspector da Fazenda da Guiné] | Camilo Pessanha [foi Venerável da Loja – ver figura] | Carlos Borges Delgado (professor do Liceu Central de Macau, mais tarde Reitor; foi pres. do Leal Senado) | Constâncio José da Silva [co-fundador e Venerável em 1910 e, depois, em 1915, já exercendo o veneralato na segunda loja, com o nº 383; advogado e jornalista republicano; vice-presidente da Câmara, director do jornal anticlerical “A Verdade” e, depois, editor, proprietário e director d’O Liberal, 1922-23] | Damião Rodrigues [notário, advogado, pres. do Leal Senado e um ousado e combativo reviralhista; ousou enfrentar Artur Tamagnini Barbosa – então governador de Macau e membro da ditadura militar saído do 28 de Maio de 1926 – e por isso foi preso e deportado para Timor; curiosamente – ver AQUI – no seu posterior regresso a Macau coloca “na parede do átrio de entrada de sua casa um retrato de grandes dimensões do ex-líder do Partido Democrático Afonso Costa” e assim o “manteve bem patente em simbólico desafio à ditadura até à sua morte em 22 de Julho de 1942] | Domingos Gregório Rosa Duque [iniciado em Fevereiro de 1916, ascendeu ao 20.º grau em 1921, tendo sido Venerável da Loja; um dos sargentos do exército presentes no dia 5 de Outubro na Rotunda, ao lado de Machado Santos; enviado para o exílio em Angola, pelo incomodo que revelava na vida militar e política, porém mantém a sua rebeldia e irreverência, pelo que foi afastado da vida militar e enviado para novo exílio, agora em Macau; mais tarde foi reintegrado no exército, como capitão; jornalista e polemista notável, foi secretário do jornal “O Liberal”, dirigido por Constâncio José da Silva; em Fevereiro de 1923 é editor e director do semanário republicano “Combate”, jornal onde já depois do 28 de Maio de 1926, declara a sua filiação maçónica (grau 33.º) no artigo com o título A Maçonaria, os estudantes reaccionários e ‘A Pátria’; funda o periódico “A Voz da Macau”, 1931] | Elísio Tavares [nasceu em 1896 em Coja; foi farmacêutico e administrador do jornal “O Liberal”] | Francisco Hermenegildo Fernandes [1863-1923; co-fundador da Loja, republicano, tradutor no Supremo Tribunal de Hong-Kong e combativo jornalista; proprietário da tipografia Mercantil; foi amigo, apoiante e protector de Sun Yat-sen, futuro presidente provisório da República da China, dando-lhe guarida na sua casa, aquando da sua fuga de Cantão, tendo, depois, estado presente na recepção que Sun Yat-sen deu em Macau, em 1912, juntamente com outros republicanos e maçons (diz-se que Sun Yat-sen, foi recebido, como visitante, na Loja Luís de Camões, em 1913); pertenceu ao Leal Senado; foi director do jornal “Echo Macaense” (1893-1899), tendo em Abril de 1896 sido afastado pela Lei da Imprensa] | Francisco Xavier Anacleto da Silva [advogado, presidente do Leal Senado] | Henrique Lapa Travassos Velez [republicano, oficial da marinha] | Herman Machado Monteiro [n. Celorico de Basto 1899, republicano auto-exilado em Macau pelo golpe de 28 de Maio de 1926, proprietário e editor do “Jornal de Notícias” de Macau, um dos fundadores do Rotary Club de Macau] | João de Freitas Ribeiro (capitão de fragata) | João Silva [oficial da armada] | Joaquim Felizardo Adão Antunes [oficial do exército, prof. do Liceu Normal de Macau] | D. José da Costa Nunes [n. na Ilha do Pico em 1880, frequenta o liceu na Horta, depois o seminário episcopal da Terceira; parte para Macau em 1902 e trabalha nas missões de Malaca e Singapura; foi bispo da diocese de Macau (1920-40), um dos fundadores do jornal “Oriente” e do Instituto de Macau; foi professor, escritor e jornalista (escreveu sob pseud. em vários periódicos, como “A Voz”, “O Telégrafo” ou a “Vida Nova”; aderente ao Estado Novo, foi elevado a Cardeal em 1962, tendo falecido em Roma em 1976] | José Luís Marques [n. Braga 1862-m. Macau 1934; militar e presidente do Leal Senado: co-fundador da Loja] | José Vicente Jorge [n. Macau 1872- m. Lisboa em 1948; amigo pessoal de Camilo Pessanha, tendo sido seu testamenteiro; leccionou no Liceu Central de Macau e em várias outras escolas; intérprete-sinólogo – trabalhou na Legação de Portugal em Pequim e em Macau, em 1911 -, solicitador da comarca de Macau, tradutor e notável coleccionador de arte chinesa; a sua valiosa colecção foi vendida, ao que parece, para os Estados Unidos] | Mário de Campos Nery [n. 1890; funcionário das Obras Públicas] | Miguel Wagner Russell (Venerável em 1915 – cf. Boletim Oficial GOLU, Maio de 1909, p. 33), Rodrigo Marim Chaves [sargento, director do jornal “A Colónia” e da Imprensa Nacional de Macau] | Telo de Azevedo Gomes [n. 1892-1974; bacharel em Filosofia Natural pela UC; professor e co-fundador do Instituto de Macau] | Wenceslau de Moraes [1854-1929; oficial da marinha de guerra, prestou serviço em Moçambique, Macau, Timor; foi imediato do porto de Macau; pertenceu ao grupo de docentes que funda o Liceu de Macau; foi cônsul de Portugal em terras do Japão; notável escritor] – cf. ibidem; ver tb. João Guedes, AQUI]


Em 1961, Danilo Barreiros publica "O Testamento de Camilo Pessanha", obra relevante para a biografia do poeta Camilo Pessanha, onde divulga a sua filiação maçónica. Curiosamente, Marcelo Caetano [1 de Outubro de 1961] escreve a Danilo Barreiros, "lamentando que este ensaísta tenha divulgado a filiação maçónica de Camilo Pessanha. Em contrapartida, Vitorino Nemésio felicita inequivocamente o autor daquela obra" [AQUI]. Diga-se, ainda, que, a 7 de Setembro de 1967, a “Livraria Sá da Costa expõe vários espécimes bibliográficos de Camilo Pessanha, cedidos por Danilo Barreiros. Entre eles, encontrava-se um diploma da Maçonaria referente a Camilo Pessanha. Dois dias depois, a Polícia Política invadiu a editora, deteve um funcionário e apreendeu todo o material exposto, que só veio a ser recuperado mais tarde” [ibidem].
Fontes Principais: Albert MacKey, Encyclopedia of Freemasonry, 2002; Arnaldo Gonçalves, “A Primeira Republica, Macau e os Maçons”, rev da Maçonaria, nº2, 2012; [Daniel Pires, org.] “Homenagem a Camilo Pessanha”, Macau, 1990; Danilo Barreiros, “O Testamento de Camilo Pessanha”, Lisboa, 1961; Paulo Franchetti, “O essencial sobre Camilo Pessanha”, INCM, 2008; especial referência aos artigos (já citados) de Arnaldo Gonçalves e de João Guedes; ler também os 2 artigos de António Valdemar, "Camilo Pessanha faria hoje 100 anos. 'Águia de Prata'. Um inédito do poeta que se deixou devorar pelo ópio  para matar as 'violentas saudades", publicados no "Diário de Notícias" de 7 e 8 de Setembro  de 1967 [pela importância, mormente a questão dos inéditos apresentados e a evocação de Camilo Pessanha via a célebre montra da Livraria Sá da Costa e que envolveu a rápida intervenção da PIDE, voltaremos a este particular assunto].
J.M.M.
 
 
 CAMILO PESSANHA E A SUA FILIAÇÃO MAÇÓNICA NA LOJA LUÍS DE CAMÕES DE MACAU – PARTE II

Camilo Pessanha é iniciado na maçonaria, com o número 6980, a 27 (ou 29?) de Novembro de 1910, na Loja Luís de Camões II, nº 309 do GOLU, de Macau [Camilo Pessanha chega a Macau a 10 de Abril de 1894], com o n.s. de “Angélico”, ascendendo a 6 de Junho de 1916 ao grau 15.º e em 22 de Julho, desse ano, ao grau 18.º (Cavaleiro Rosa-Cruz); em 1918, tinha já o grau 25.º; a 15 de Setembro de 1919 ascende ao grau 30.º [os seus Irmãos são “José Vicente Jorge, Constâncio José da Silva e, eventualmente, Silva Mendes” - ver AQUI). Na loja teve o cargo de Orador (1911 – cf. Boletim Oficial do GOLU, Janeiro-Março, 1911, p. 31) e foi Venerável da Luís de Camões nº 383 (a loja reergueu-se em 1915, depois de abater colunas em 1914, daí o novo número de registo, conforme adiante referiremos).
[AO ALTO] “Um curioso documento assinado por Camilo Pessanha. É bem conhecida a filiação maçónica do poeta da ‘Clepsidra’ e o facto de ter pertencido à Loja Luís de Camões, de Macau, na qual desempenhou durante muitos anos o cargo de Vigilante (Presidente). Este documento comprova tal facto. Trata-se de um atestado em nome do oficial do exército Joaquim Felizardo Adão Antunes, datado de 19 de Outubro de 1918, selado e assinado por Camilo Pessanha, na qualidade de venerável, e por outros oficiais da loja” [via António Ventura Facebook]
A Loja Luís de Camões II, nº 309,
[tenha em conta que existia uma outra Loja com o mesmo Patrono, a Luís de Camões, a Oriente de Lisboa, que instalada em 1895 com o número de registo 195, mas que em 1902, quando regressa ao GOLU depois ter aderido ao Grande Oriente de Portugal, recebe o nº 226. Por outro lado, no que diz respeito à actividade de lojas maçónicas em Macau, diga-se que não há documentos conhecidos que refiram a existência de qualquer loja ou triângulo, anterior a 1906. Por isso a alusão a uma denominada Loja Luís de Camões de Macau, presumidamente a partir da Loja Lusitanea (1815), loja de exilados portugueses em Londres - onde era Venerável Hipólito José da Costa e debaixo dos auspícios da Grande Loja de Inglaterra -, não se pode confirmar. Conhecido é documentação avulsa de instalações de Lojas sob o domínio da Grande Loja da Suécia e de Inglaterra no Cantão, por volta de 1788, mas, curiosamente, nada nos é referido sobre a região de Macau.
Porém, alguns dos mais antigos (conhecidos) maçons residentes em Macau participaram activamente nos movimentos liberais do seu tempo, tendo mesmo fundado importantes clubes de reflexão política, social e cultural. De facto, no período anterior a 1906, em Hong Kong e em Macau, alguns prestigiados portugueses foram tidos como maçons. Como exemplo, o médico ateu, darwinista e republicano Lourenço Pereira Marques (1852-1911) e Polycarpo da Costa (1837-1884) gozavam de especial estatuto nos círculos maçónicos, principalmente de Hong Kong. É possível que L. Pereira Marques tenha sido iniciado antes do seu regresso a Hong Kong em 1882 (na Grande Loja de Dublin – 1877 ? -, cidade onde se diplomou, ou até mesmo em Portugal, numa das lojas pertences à Grande Loja Provincial do Oriente Irlandês, anteriormente a esta obediência integrar, em 1872, o GOLU); quanto a Polycarpo da Costa esta confirmado a sua filiação maçónica a partir da descrição do seu funeral, noticiado em periódicos da época, e pela simbólica presente no seu mausoléu. De igual modo seriam (?) maçons, José Osório de Castro Cabral e Albuquerque (1779-1857, governador de Macau, iniciado na Loja Audácia, de Coimbra em 1838, com o n.s. Leónidas – refª A.H. Oliveira Marques); Adrião Acácio da Silveira Pinto (17xx-1868, tenente-coronel e governador de Macau, entre 1837-1843, mais tarde governador de Angola, 1848-51); o Barão do Cercal, António Alexandrino de Melo (1837-1885 – ver mais em “Galeria de Macaenses Ilustres do século XIX”, de P. Manuel Teixeira, Macau, 1942, pp. 243-264); Assim sendo - e tendo em conta a difícil situação político-religiosa da época e o secretismo que se exigia - a existência de oficinas maçónicas, com influência ou auspícios de portugueses é hipótese a considerar – sobre esta questão e mais apontamentos acerca da Loja Luís de Camões, ver João Guedes, “Subsídio para a Historia da Maçonaria em Macau]
do REAA, foi instalada em 1909 e resultou da transformação do triângulo nº 90 [instalado pelo Decreto nº7 de 23 de Janeiro de 1906 – cf. Boletim do GOLU, Junho de 1907, p. 11], por iniciativa da loja maçónica de Coimbra, Pro Veritate. A sua acção em Macau é determinante na “proclamação da República”, tendo pertencido à loja um número significativo de militares, advogados, funcionários públicos e jornalistas.
Abateu colunas em 1914 (José Bernardo Ferreira, na sua obra “Maçonaria Universal”, 1921, à p. 156, refere a data do Decreto de dissolução, o dia 2 de Março de 1915). E no ano de 1915 [Decreto nº13, de 8 de Abril de 1915] reergueu colunas [“sem os elementos indesejados” – cf. Arnaldo Gonçalves, “A primeira República, Macau e os Maçons”, Revista da Maçonaria, nº2, Fevereiro de 2012, p. 84] agora com o número de registo nº 383, mantendo-se em actividade até à clandestinidade – refª A.H.O.M., in Dicionário … – sendo que em 1947, ainda havia notícias que se mantinha em trabalho [sobre o surgimento da Maçonaria em Macau, a Loja Luís de Camões, o seu quadro, bem como o percurso maçónico de Camilo Pessanha, consultar o excelente artigo de Arnaldo Gonçalves, ibidem; de igual modo, cf. João Guedes].
 
 
 
 
 

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