terça-feira, 29 de novembro de 2016





Sampaio Bruno e a urgência de ser eleito sócio da Academia das Ciências

--divulgada uma carta inédita e confidencial para Teófilo Braga

Uma carta confidencial de Sampaio Bruno para Teófilo Braga a pedir – lhe que fosse eleito com urgência para a Academia das Ciências, constituiu o tema de uma comunicação de António Valdemar, apresentada, em sessão daquela instituição e no âmbito das comemorações do centenário da morte do pensador, jornalista, erudito e notável figura cívica e cultural do Porto, ligada aos primórdios do Partido Republicano e ao movimento revolucionário do 31 de Janeiro de 1890
 «Não possui qualquer fundamento -- começou por referir António Valdemar -- a informação da Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira ao salientar que Sampaio Bruno «formou-se em Medicina em 1876 e passou ainda a frequentar a Antiga Escola Politécnica do Lisboa, mas em 1878 teve de abandonar os estudos por falta de saúde». (vol. 26 – Pág. 891). Nos estudos biográficos e críticos de Joel Serrão verifica-se que Sampaio Bruno apenas frequentara e não concluíra a Antiga Escola Politécnica do Porto. Não possuía qualquer curso».
Noutro passo ao divulgar e comentar a carta inédita e confidencial de Bruno para Teófilo Braga, afirmou António Valdemar : «Sampaio Bruno pretendia ocupar a direção da Biblioteca do Porto. O lugar encontrava-se vago, pela morte do diretor e fundador da Biblioteca Eduardo Allen (1824 - 1899), sócio da Academia das Ciências, licenciado em Direito por Coimbra.
«O acesso, contudo, permanecia-lhe vedado, não por motivos políticos, pela filiação republicana e intervenção no 31 de Janeiro. Era exigido um curso universitário. Sampaio Bruno debatia-se com a falta de habilitações para ocupar o cargo. Procurou ser eleito sócio da Academia das Ciências de Lisboa. O seu mérito era amplamente reconhecido. Tinha admiradores, amigos pessoais, conterrâneos e correligionários políticos em ambas as classes da Academia das Ciências de Lisboa. Sampaio Bruno admitiu que tal distinção ultrapassaria os obstáculos e as exigências institucionais.
«Contudo,- esclareceu António Valdemar -- o tempo de decisão das Academias não se compadece, nem coincide com o ritmo das tramitações burocráticas. Ignoro que diligências se fizeram. Se houve formalização da proposta; se chegou a ser apreciada e submetida à votação a candidatura de Bruno.
Entretanto, acentuou António Valdemar «o cargo de diretor da Biblioteca do Porto foi ocupado por António Rocha Peixoto (1868 – 1909) licenciado pela Escola Politécnica do Porto, arqueólogo, etnógrafo e historiador. Passados alguns anos, Sampaio Bruno ingressava na Academia das Ciências de Portugal, fundada em Lisboa a 18 de Abril de 1907, que funcionou pouco mais de uma década, se estendeu a todo o Pais e chegou inclusive à Galiza.
«Esta Academia - que resultou de uma cisão polemica com a Academia das Ciências de Lisboa - incluiu, logo de início, numerosos sócios de prestígio alguns deles da Academia das Ciências de Lisboa como Teófilo, (um dos organizadores), Conde de Sabugosa, Alfredo da Cunha, Teixeira de Queiroz, Sousa Viterbo, Consiglieri Pedroso, Gonçalves Viana. Entre os propostos destaca-se Sampaio Bruno. A Academia das Ciências de Portugal teve o mérito de corrigir algumas injustiças, até que, de condescendência em condescendência, abriu indiscriminadamente a porta a carreiristas intelectuais e oportunistas políticos.»
Mais adiante disse António Valdemar: «Só em 1909, Sampaio Bruno, conseguiu, finalmente, com a morte de Rocha Peixoto ser nomeado bibliotecário e a seguir diretor da Biblioteca Municipal do Porto. A sua obra reflete o Porto cívico  e cultural de outros tempos e do seu tempo: o Porto de Antero de Quental, a presidir à Liga Patriótica do Norte. O Porto literário de Eça de Queiroz, à frente da Revista Portugal. O Porto de Camilo, de António Nobre e Raul Brandão e de Manuel Teixeira Gomes a tentar fazer o curso de Medicina. O Porto do pintor Marques de Oliveira (mestre de Henrique Pousão), que retratou o mar e o areal da Póvoa de Varzim. O Porto de Soares dos Reis  que, de insatisfação a insatisfação, e sufocado por intrigas e invejas, num desesperado encontro com a morte, resvalou nas garras do suicídio. O Porto medularmente republicano de Rodrigues de Freitas de Basílio Teles, de Aurélio Paz dos Reis (o criador do cinema português) »
A concluir António Valdemar observou: «Ainda Sampaio Bruno viveu seis anos enraizado na Biblioteca do Porto. A descobrir e editar velhos manuscritos. Sempre a trabalhar. A escrever n’ A Aguia de Teixeira de Pascoais e de Leonardo Coimbra. A receber uma carta de Fernando Pessoa para colaborar no Orpheu. »


Inicio e final da carta de Sampaio Bruno para Teófilo Braga 










Sem comentários: